O profeta do Senhor, João Batista, exortou a todos de sua época dizendo: “Convertei-vos, porque o reino dos céus está próximo” (Mt 3,2). Certamente, se estivesse vivendo em nossos dias ele iria exorta-nos com as mesmas palavras. A liturgia da Palavra do segundo domingo do advento, através deste profeta vem nos assegurar acerca da necessidade da conversão.

O significa da palavra conversão indica a respeito de um mudar de direção, de rumo. Quando escutamos que alguém se converteu o que logo pensamos é de que este alguém mudou ou aderiu à outra religião. Na idade média quando alguém anunciava que havia assumido sua conversão, significava que este alguém deixaria o mundo em que vivia para ingressar na vida monástica para então, viver radicalmente o Evangelho de Nosso Senhor. Porém, Francisco de Assis testemunhou ao mundo que era possível converter-se e continuar no mundo em que vivia.

Para podermos compreender o que se entendia por “conversão”, se faz necessário examinarmos a mentalidade da época de Francisco.

A concepção mais difundida do termo, no século XII, provém de São Bernardo que usa a palavra “conversão” no sentido de fuga do mundo e ingresso na vida monástica. [...] Partindo da primeira experiência, Bernardo fala da conversão “espiritual” desdobrando-a em graus sucessivos: o conhecimento de si se expande no amor carnal “social”, isto é, amor solidariedade para com o próximo tão somente a nó em nossa miséria; dilatando-se ainda mais, ou seja, o amor solidariedade se torna amor carnal de Cristo, modelo de compaixão. Contemplando a paixão de Cristo, nela reconhece o valor do testemunho da compaixão de Jesus pelos homens aprendendo também a compartilhar de seus sofrimentos. A espiritualização de tal amor-compaixão leva à conversão ao Verbo de sabedoria. A conversão como experiência que parte da solidariedade com os irmãos sofredores, através da contemplação da Paixão, leva o Verbo como fonte de sabedoria e assim nasce o sentido da vida nova. (1)


A conversão de Francisco de Assis diverge daquela que usualmente estava-se acostumado a ver, pois ele optou por permanecer no mundo. No entanto, este permanecer no mundo não era mais como antes, e sim numa vida nova. A vida nova do Homem de Assis se dava na contemplação-meditação da Paixão de Nosso Senhor e na ação caridosa para com os mais necessitados. Na época de Francisco os mais necessitados eram os “leprosos”, os hansenianos, os quais ele com carinho e amor cuidava vendo neles o Cristo.

O Pobrezinho de Assis nos aponta para o modo contínuo de conversão, modo este que devemos assumir em nossas vidas.

O profeta Isaías diz do Salvador, que nascendo da raiz de Jessé surgirá como o rebento de uma flor, e que sobre ele repousará o Espírito do Senhor, o mesmo espírito que Jesus enviou e continua a enviar a seus discípulos. O Espírito do Senhor é espírito de sabedoria e discernimento, espírito de conselho e fortaleza, espírito de ciência e temor de Deus. É o Espírito do Senhor que possibilitará a vivência contínua da conversão, assim como em Francisco de Assis. O livro do Profeta Isaías ainda anuncia a terra prometida, o reino harmônico, onde a vaca e o urso pastarão juntos. A terra em que estará tão repleta do saber do Senhor quanto as águas que cobrem o mar. (2)


O apóstolo Paulo ao escrever aos Romanos destaca que temos um só coração e uma só voz, e por isso devemos glorificar a Deus e cumprir os seus preceitos. Este cumprimento não deve ser meramente uma ação obrigada, mas deve surgir do coração. (3)


Até então, observamos alguns pontos acerca da conversão, agora, precisamos indagar como viver a contínua conversão hoje?


Como no tempo de Abraão, de Moisés, de Cristo, de Francisco, certamente, viver a contínua conversão nunca foi fácil. No entanto, só depende de cada um, só depende da disposição interna, a disposição do coração aberto a mudar-se, a permitir transformações. O cristão ao receber o sacramento do Crisma assume perante a comunidade cristã que irá viver a sua fé e através da sua vida testemunhará o Cristo pobre, humilde e crucificado. Será que estamos conseguindo viver isto?


Viver a nossa conversão cotidianamente significa renunciar nosso egoísmo, deixar de lado nossas diferenças monetárias; significa perceber no morador de rua, que ele é meu irmão; significa que dar presentes e atenção a crianças carentes não é só na época de natal, mas todas as épocas do ano. Com certeza, nossa lista ficaria enorme se colocássemos todas as possibilidades e significados da contínua conversão, mas cada cristão sabe a medida de seu coração, por isso permitamos que o Espírito do Senhor possa agir em nós e nos ajude a viver a Conversão Contínua. T


(1) BOUGEROL, J. Conversão. In: Dicionário Franciscano. Petrópolis: Vozes, 1999. p.101.
(2) Cf. Isaías 11,1-10.
(3) Cf. Romanos 15,4-9)

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