O dom da Piedade
Todo homem é chamado a viver em sociedade, relacionando-se com Deus e com seus semelhantes. Requer-se que esse relacionamento seja reto ou justo. Por isto a virtude da justiça rege as relações de cada ser humano, assumindo diversos nomes de acordo com o tipo de relacionamento que ela deve orientar: é justiça propriamente dita, sempre que nos relacionamos com aqueles a quem temos uma divida rigorosa; a justiça se torna religião desde que nos voltemos para Deus; é piedade, se nos relacionamos com nossos pais, nossa família ou nossa pátria; é gratidão, em relação aos benfeitores.
Ora, há um dom do Espirito que orienta divinamente todas as relações que temos com Deus e como o próximo, tornando-as mais profundas e perfeitas: é perfeitamente o dom da Piedade. São Paulo implicitamente alude a este dom quando escreve: “Recebestes o espirito de adoção filial, pelo qual bradamos: ‘Abbá’ ó Pai” (RM 8, 15). O Espírito Santo, mediante o dom da Piedade, nos faz, como filhos adotivos, reconhecer Deus como Pai.
E, pelo fato de reconhecermos Deus como Pai, consideramos as criaturas com olhar novo, inspirado pelo mesmo dom da Piedade.
Examinemos de mais perto os efeitos do dom da piedade.
Frente a Deus ele nos leva a superar as relações de “dar e receber” que caracterizam a religiosidade natural; leva a não considerar tanto os benefícios recebidos da parte de Deus, mas muito mais, o fato de que Deus é sumamente santo e sábio: “Nós vos damos Graça por vossa grande Glória”, diz a Igreja no hino da Liturgia Eucarística; é, sim, próprio de um filho olhar a honra e a gloria de seu pai, sem levar em conta os benefícios que ele possa receber do mesmo. É o dom da piedade que leva os santos a desejar, acima de tudo, a honra e a glória de Deus “... para que em tudo seja Deus glorificado”, diz São Bento, ao passo que São Inácio de Loiola exclama: “... para a maior glória de Deus”. É também o dom da piedade que desperta no cristão viva e inabalável confiança em Deus Pai... Confiança e entrega das quais dá testemunho Santa Teresinha de Lisieux na sua doutrina sobre a infância espiritual.
O dom da piedade não incita os cristãos apenas a cumprir seus deveres para com Deus de maneira filiar, mas leva-os também a experimentar interesse fraterno para com todos os seus semelhantes. Típico exemplo deste sentimento encontra-se na vida de São Francisco de Assis: quando este, certo dia, sonhando com as glórias de um cavaleiro medieval, avistou um leproso, sentiu-se impelido a superar qualquer repugnância e a dar-lhe o ósculo que exprimia a fraternidade de todos os homens entre si.
O dom da piedade, tornando os cristão consciente de sua inserção na família dos filhos de Deus, move-o a ultrapassar as categorias do direito e do dever, a fim de testemunhar uma generosidade que não regateia nem mede esforços desde que sirva aos irmãos. É o que manifesta o Apóstolo ao escrever: “Quando a mim, de bom grado me despenderei, e me despenderei todo inteiro, em vosso favor” (2 Cor 12, 15).
Extraido do Livro: A Moral Católica e os Dez Mandamentos
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