Cardeal Pizzaballa: o acordo para Gaza está próximo, mas há quem se oponha
O Patriarca Latino de Jerusalém expressa à mídia vaticana, suas esperanças de um acordo que ponha fim a essa fase da guerra em Gaza, afastando também as perspectivas de uma escalada do conflito, mas ao mesmo tempo adverte contra ilusões fáceis: ainda há muitos obstáculos, muitas dificuldades.
“As perspectivas nos dão esperança": palavras do Cardeal Pierbattista Pizzaballa, Patriarca Latino de Jerusalém, em uma entrevista à mídia do Vaticano, comentando o resultado das negociações de Doha para o cessar-fogo em Gaza. As negociações devem ser retomadas nos próximos dias no Cairo. No entanto, as violências não cessam em várias frentes.
Eminência, pode-se entrever um velado otimismo proveniente de Doha, depois das negociações promovidas pelos EUA, Egito e Catar, para a determinação de uma trégua em Gaza e a libertação dos reféns israelenses. O senhor acredita que desta vez o objetivo pode ser alcançado?
Sim, acredito que neste momento as condições sejam adequadas para que se chegue a um acordo. É claro que sempre haverá os que se opõem a isso, assim como haverá obstáculos, mas acredito que finalmente as condições amadureceram para concluir essa fase da guerra e, assim, também evitar uma escalada, uma ampliação do conflito com a intervenção direta do Irã e a extensão da guerra para o Líbano. Repito, há muitas dificuldades, mas acredito que há também um esforço importante por parte não apenas dos mediadores, mas também dos Estados Unidos, para encerrar essa situação. As perspectivas são promissoras.
E, consequentemente, espera-se que se afaste a ameaça de intervenção iraniana contra Israel...
Sim. Não devemos nos iludir. O conflito ainda não acabou; vemos isso muito bem em Gaza com os constantes bombardeios, com a tragédia que está diante dos olhos de todos e que sempre nos deixa sem palavras.
Com efeito, o bombardeio em Gaza continua incessantemente. Enquanto isso, de acordo com o Hamas, em 15 de agosto foi ultrapassado o trágico marco de 40 mil palestinos mortos em Gaza desde 7 de outubro. Como a comunidade cristã em Gaza está vivendo essa situação?
A nossa pequena comunidade que se encontra no norte de Gaza, Gaza City, tenta viver da melhor maneira possível, com serenidade, por mais difícil que seja. Estamos sempre ativos na busca de ajudas para a população que conseguimos não apenas com os Cavaleiros de Malta, mas também com muitas outras associações; as mais recentes foram as da Igreja Menonita, que enviaram mais de mil pacotes. É muito bom ver como, em meio a essa situação tão grave e trágica, há também tanta solidariedade.
Embora toda a atenção da mídia esteja voltada para Gaza e para a fronteira com o Líbano, a situação na Cisjordânia está se tornando a cada dia mais séria e alarmante. Que sinais estão chegando dessas áreas?
O que o senhor diz é muito verdadeiro. Falamos muito sobre Gaza, e com razão, mas há também uma situação muito grave nos Territórios, na Cisjordânia. Há poucos dias, houve um pogrom de colonos contra um vilarejo palestino, com um morto e muitos danos. Esse é apenas o último episódio de uma série de eventos que caracterizaram a tensão contínua e cada vez maior em toda a Cisjordânia nos últimos meses; tensões, confrontos contínuos entre colonos e palestinos, mesmo com a presença das forças armadas israelenses... Ou seja, tensões contínuas que estão tornando a vida da população palestina cada vez mais complicada e mais difícil. O risco de uma explosão existe, e é por isso que precisa ser feito muito trabalho, em primeiro lugar, para um cessar-fogo em Gaza e, depois, para restaurar a ordem, a segurança e a vida comum, na medida do possível - até onde se possa falar de vida comum - em toda a Cisjordânia. Por fim, precisamos começar uma nova página. Isso não é fácil. O que vemos na Cisjordânia - o que sempre digo - é um exemplo palpável e concreto de como o ódio, o ressentimento e o desprezo levaram a formas de violência cada vez mais extremas e cada vez mais difíceis de se conter. Portanto, precisamos trabalhar muito, não apenas politicamente, mas também religiosamente, porque o pano de fundo dessa violência também é religioso, para garantir que esses faciosos, esses extremistas, sejam afastados, isolados e não tenham toda a força que têm agora.
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